segunda-feira, 20 de maio de 2013

Raça


Joel Zito Araújo é um cineasta preocupado com a discriminação racial no Brasil. Sua obra gira em torno do tema, em obras documentais como A Negação do Brasil (livro e filme, sobre a invisibilidade do negro na dramaturgia brasileira) e ficcionais, como Filhas do Vento, vencedor de oito kikitos em Gramado. Seu novo trabalho, Raça, feito em parceria com a documentarista norte-americana Megan Mylan, vai na mesma linha.
Raça elege três pontos de vista para convergir na discussão de um mesmo problema.

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No primeiro, acompanhamos os dez anos de luta parlamentar para fazer aprovar o Estatuto da Igualdade Racial. No segundo, outra batalha, a dos moradores do Quilomobo de Lizarinho para evitar que uma multinacional se apoderasse de suas terras. No terceiro, a saga da implantação da TV da Gente, um veículo de comunicação cujos dirigentes e funcionários eram, em sua maioria, composta por negros.

Os segmentos narrativos se interligam e se alternam ao longo do documentário. E cada um tem uma espécie de condutor, nessa que é uma luta coletiva por direitos. No plano político, o destaque fica para o senador Paulo Paim, em suas negociações pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. Entre os quilombolas, destaca-se a carismática Dona Miúda. E, na luta pela implantação da TV da Gente, o autor da ideia, o cantor Netinho de Paula.

Raça é um exercício de cinema direto, com os diretores acompanhando seus personagens durante vários anos. Ou seja, a ideia de base é captar não um resultado alcançado, mas um processo que se faz, com muita dificuldade e raramente evolui em linha reta. Pelo contrário, como são muitas as resistências, esses personagens são obrigados ora a negociar, ora a pressionar, ora a arrumar aliados, às vezes inesperados para fazer com que suas causas andem.

Por um lado, nota-se a crítica embutida na maneira como as falas dos personagens e suas ações são colocadas na tela. O pressuposto, implícito, é de que a sociedade teve informações muitas vezes incompletas ou unilaterais sobre temas como as cotas raciais, a posse da terra ou o oligopólio dos meios de comunicação. O filme entra nesse vácuo, nessa carência informativa.
Por outro, há também a decisão de não dar por findo percursos ainda em suspenso. Precisa-se ir ao Google para saber o que foi feito da TV da Gente. O filme não informa. As conquistas, mesmo aparentemente históricas, parecem ainda frágeis e provisórias. É um inacabamento interessante. Sugere que a luta mal começou.

Fonte: http://blogs.estadao.com.br/luiz-zanin/raca/

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